terça-feira, 2 de junho de 2009

Científico

Desenhei um ponto de interrogação na areia da praia
As nuvens desenharam no céu, eu vi
Desenhei no coqueiro e no coco
No copo que eu bebi

Fiz um ponto de interrogação em mim
Em minha testa, em minha boca
Em minha barriga, em minhas costas
Em minha pica, em minha bunda
Em meus pés, na sola, no dedo, na unha

Botei um ponto de interrogação em minha casa
Na frente e nos fundos
Em meu teto, em meu chão, nas paredes, no colchão
Na janela, na porta, pia, vaso e chuveiro
No quintal, na sala, no banheiro
Vários pontos de interrogação no meu espelho

Risquei um ponto de interrogação em tudo
No céu, no mar, nas árvores
Na pedra, na terra, no vidro, no ferro
Desenhei no ar
E cada ponto que desenhei
Ainda hoje eu vejo lá

Arthur M. Vargens

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Pereba

a Rejane, do lado de cá do espelho

Eu tenho uma doença
Você também
Um verme, um germe que dá em alguém
Uma bactéria venérea que se pega no ar
Pega de estar perto, só de respirar

Vem do lugar ou do parto, na maternidade
Vem do ar ou do mar
Vem dos fatos, na eternidade

Sinto frio, um calafrio
Quero vomitar
Me dói a garganta
Me sufoca, me esgota

Dói o estômago
Dói o pulmão
Dói cada nervo ou veia irrigando coração
Dói... Dói... Dói...

Vem da poeira da rua
Da poeira dos livros
Vem da poeira de casa ou dos cromossomos
Não sei bem de onde vem essa doença de ser quem nós somos

Eu tenho um vírus
Você também
O pior que já habitou em alguém

Arthur M. Vargens